“Nova bariátrica” não é cirurgia e ainda divide especialistas

Desde a adolescência, a farmacêutica Millene Kogan Copat, de 28 anos, lutava contra a balança. Com 1,67 metro e 88 quilos, era considerada “gordinha” por colegas — e, segundo a medicina, portadora de obesidade grau I, um dos tipos mais leves da doença. Ela havia tentado diversas dietas e remédios, sem sucesso, quando ficou sabendo, no ano passado, que a Faculdade de Medicina do ABC (FMABC) estava em busca de voluntários para uma nova cirurgia bariátrica, batizada de gastroplastia endoscópica. Millene não pensou duas vezes e se inscreveu. “Era minha última esperança”, confessa.

Acabou sendo selecionada e se tornou a primeira brasileira a se submeter à operação, realizada no dia 27 de janeiro no centro cirúrgico da instituição de ensino. Desde que passou pelo procedimento, a farmacêutica emagreceu 10 quilos e espera perder outros 13. “Três dias depois, já estava me movimentando normalmente”, conta. Aprovada pela Anvisa no fim de 2016, a gastroplastia endoscópica consiste em diminuir entre 50% e 60% o tamanho do estômago, gerando saciedade.

Ao contrário da bariátrica tradicional, não há cortes. Um endoscópio flexível com uma câmera de alta resolução e uma agulha em sua ponta é inserido pela boca até chegar ao estômago. Então, o órgão é “grampeado” e reduzido por suturas. A operação dura uma hora (trinta minutos menos que a convencional) e a anestesia é geral, como acontece na cirurgia tradicional. Os riscos pós-operatórios, como sangramento e perfuração, no entanto, são menores e a recuperação, mais rápida.

O paciente recebe alta no mesmo dia e pode retomar as atividades em até uma semana. Para se ter uma ideia, na bariátrica convencional deve-se ficar quatro dias internado e de duas semanas a um mês de repouso. Não é preciso ter obesidade mórbida para passar pela operação. Obesos leves e moderados (graus I e II), com índice de massa corporal (IMC) de 30, podem fazer o procedimento.

Desde então, 2 000 cirurgias foram realizadas em doze países, entre eles Alemanha e Espanha. O procedimento só chegou agora ao Brasil porque a autorização demorou a sair. “Infelizmente, temos uma regulação burocrática e lenta por aqui”, lamenta Galvão Neto.

O preço estimado ficará em torno de 17 000 reais, 30% mais baixo que o das bariátricas tradicionais. “Nossa ideia também é levar a cirurgia à rede pública”, diz Eduardo Grecco, coordenador do serviço de endoscopia da FMABC e um dos integrantes do grupo brasileiro que trabalha com Galvão. A decisão de liberar a nova operação, no entanto, depende da aprovação de técnicos do Sistema Único de Saúde (SUS).

AS VANTAGENS DO PROCEDIMENTO

Sem cortes
Parte do estômago não é retirada, e sim “grampeada” por suturas.

Recuperação rápida
O paciente recebe alta no mesmo dia e volta às atividades cotidianas em uma semana.

Maior abrangência
Pessoas com obesidade de graus I e II também estão aptas para fazer a gastroplastia.

Preço em conta
Os custos estimados são 30% mais baixos que os das bariátricas tradicionais.

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